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Introdução do livro 'Player Piano Treasury' de Harvey N. Roehl, paginas 47 a 50, © 1961 de Havey N. Roehl; Publicado pela 'The Vestal Press', Vestal-Nova York. Tradução para Português por João Inácio Padilha O piano operado por meios mecânicos – com a inerente capacidade de tocar não apenas mecanicamente, mas também com todo o coração e toda a alma musical que o artista transporta em sua interpretação – é um dos conceitos que mais causaram perplexidade entre os muitos inventores do passado que atuaram nesse campo de atividade. As honras pelo êxito desse empreendimento não cabem aos norte-americanos, e sim aos alemães. Logo após a virada do século, as firmas Hupfeld e M. Welte and Sons – ambas já estabelecidas no ramo de engenhos musicais – comercializaram diversas máquinas capazes de reproduzir efetivamente a expressão do artista. O equipamento da Hupfeld era conhecida como "DEA", e o da Welte, como "Mignon" – para dar ênfase ao fato de que o produto era pequeno em tamanho, em comparação com outros fabricados pela mesma empresa, todos com enormes dimensões. Aparentemente, a Hupfeld nunca comercializou extensivamente o DEA nos Estados Unidos, em contraste com a Welte, que em torno de 1906 desencadeou uma vigorosa campanha para colocar seu produto no mercado, e acabou instalando uma fábrica em Poughkeepsie, no estado de Nova York – a qual terminou sendo desapropriada como capital estrangeiro durante a I Guerra Mundial. A empresa Welte foi criada por Michael Welte na cidade alemã de Friburgo, na primeira metade do século XIX, como corolário dos empreendimentos de seu fundador na fabricação de caixas de música e, mais tarde, de engenhos musicais mais complexos, os chamados orchestrions – cuja tecnologia foi por ele aperfeiçoada. O típico orchestrion europeu não funcionava em torno de um piano, a exemplo das versões americanas posteriores, e sim de conjuntos de tubos, tambores e lingüetas acionados por um sofisticado cilindro de caixa de música – ou, em seu desenvolvimento posterior, por rolos de papel. Por volta de 1900, o mercado para esses produtos já era praticamente inexistente. Com o objetivo de reavivar os negócios da empresa, Edwin Welte, neto do fundador, trabalhou com seu cunhado, Karl Bockisch, no aperfeiçoamento de uma nova máquina. O resultado foi o piano de reprodução Welte-Mignon. Já em 1905, a firma conseguia atrair vários compositores e instrumentistas da época para tocar no novo instrumento, a fim de produzir rolos de papel que eram perfurados não apenas com a finalidade de manter o registro das notas executadas, mas também, mediante perfurações adicionais, emular a expressividade interpretativa de cada indivíduo em particular. Com o passar dos anos, praticamente todos os grandes artistas da época gravaram, ocasionalmente, em algum instrumento da Welte ou da Hupfeld, e muitas dessas interpretações seriam mais tarde adaptadas para equipamentos fabricados nos Estados Unidos. Contudo, os pianos acionados por rolos de papel eram excessivamente caros, assim como os próprios rolos. Entre as várias centenas de rolos de papel indicados no catálogo de 1912 da Welte-Mignon, havia unidades que custavam 10, 15 e até 17 dólares, e algumas atingiam preços ainda mais altos quando se leva em conta que algumas composições tinham que ser acomodadas em dois ou três rolos, em virtude de sua longa duração. Não é surpresa que hoje em dia sejam raros os equipamentos da Welte produzidos na Alemanha. Naqueles dias, eram poucos os que tinham condições de adquiri-los, e os indivíduos abastados correspondiam àquela categoria de consumidor que, por fastio, costumava desfazer-se de seu instrumento, tão logo se sentisse cansado de mantê-lo. Alguns mecanismos da Welte foram incorporados em pianos produzidos nos Estados Unidos, e a experiência de ouvir um pouco dessa música do passado, num magnífico piano como o Mason-Hamlin, não é facilmente olvidável pelos conhecedores desse tipo de equipamento. Depois da I Guerra Mundial, a Welte estabeleceu-se nos Estados Unidos com uma operação industrial, mesmo depois de haver licenciado, naquele país, os direitos de suas patentes originais em favor da Auto-Pneumatic Action Company. Nos anos 20, foram produzidos pianos de reprodução de parede – similares, em seu princípio operativo, aos antigos instrumentos com mecanismos manuais ( push-up) – mas o mercado para esse produto sempre foi reduzido. Em 1931, foi produzido o último instrumento de reprodução da Welte. Edwin Welte morreu em 1957, com 82 anos de idade, tendo acompanhado, ao longo de sua vida, todo o ciclo de popularidade do piano de reprodução. Outras firmas norte-americanas Chega a ser surpreendente que nenhuma empresa norte-americana tenha conseguido produzir um mecanismo de reprodução até 1913. É possível que nenhum tenha sido aperfeiçoado, ou talvez os fabricantes estivessem convencidos de que o mercado não era propício. No entanto, o instrumento conhecido como Steinway Duo-Art Pianola foi introduzido naquele ano, como resultado de um contrato que havia sido firmado entre a Aeolian Corporation e a Steinway, em 1909. A Aeolian adquiriu pianos especialmente adaptados pela Steinway, nos quais foi instalado o mecanismo Duo-Art de reprodução, que havia sido recentemente aperfeiçoado. Nos anos subseqüentes, esses mecanismos foram aproveitados pela própria Aeolian em pianos destinados aos mercado norte-americano, das marcas Weber, Steck, Wheelock, Stroud e Aeolian, nesta ordem de qualidade e preços. Muitos modelos Steinway eram, em seu exterior, peças de refinada marcenaria, com ornamentos abundantes. O mais barato deles custava cerca de 4.500 dólares, enquanto outros pianos de categoria podiam ser adquiridos por um terço dessa quantia. Como era o caso do Welte, isto implicava em que apenas os ricos tivessem condições de possuir pianos de reprodução. Em contrapartida, os produtores de rolos comercializavam sua mercadoria a preços bastante baixos (um produto da Duo-Art seria caro se custasse quatro dólares), numa tentativa de aumentar seu rendimento nesta fatia do mercado. A exemplo da Welte, a Aeolian Corporation procurava convencer a maior quantidade possível de grandes intérpretes da época a tocar em seus pianos, explorando duplamente os nomes desses artistas ao fazer grande publicidade de suas declarações laudatórias sobre as qualidades do instrumento – e, seguindo o exemplo estabelecido anteriormente por Tremaine, ao anunciar suas mercadorias em campanhas de grande visibilidade. Está claro que um leitor com algum discernimento é capaz de detectar uma notória similaridade no teor daquelas elogiosas opiniões emitidas por intérpretes famosos (é difícil acreditar que muitos daqueles pianistas fossem capazes de dizer o que aparecia impresso!). A Duo-Art estava estabelecida no mercado até meados dos anos trinta, quando um incêndio desastroso destruiu sua fábrica em Nova York. Depois desse sinistro, a Aeolian Company fundiu-se com a American Piano Company (AMPICO) e transferiu sua base de operações para East Rochester, no estado de Nova York. Os rolos de papel continuaram a ser produzidos por vários anos, tendo havido nesse período, entre a AMPICO, produtora de pianos de reprodução, e a Duo-Art, um estreito relacionamento que teve origem, sem dúvida, no fato de ambas as companhias estarem sob o mesmo teto. Pesquisadores de hoje discordam quanto à capacidade do mecanismo de reprodução da Duo-Art de emular o talento humano tão satisfatoriamente quanto outros equipamentos produzidos nos Estados Unidos com a mesma finalidade. Este ponto é controverso, mas o fato é que os produtos da Duo-Art tiveram rápido acesso aos consumidores e obteve uma boa aceitação no mercado, resguardando-se nessa posição até o seu amargo fim, que coincide com a decadência dos pianos de reprodução e dos outros instrumentos convencionais do gênero, sucumbidos ao preço do progresso. [index]
18 August 2002 |
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